Vanderlei Silveira
Em terra de líder 5.0, quem tem hard skill é rei
Sem processo claro, não há empatia que sustente uma equipe por muito tempo.

Coluna Semanal –
Nos últimos anos, o mundo da liderança se apaixonou pelas chamadas soft skills. Empatia, escuta ativa, inteligência emocional, comunicação não violenta, feedback compassivo, propósito, segurança psicológica. Tudo isso ganhou destaque em cursos, livros, palestras e redes sociais. Os líderes passaram a ser cobrados não só por entregar resultado, mas por serem emocionalmente sofisticados. E isso, por um lado, é ótimo. Afinal, ninguém aguenta mais um chefe tóxico gritando no corredor. Ninguém quer trabalhar num ambiente hostil. As soft skills chegaram para humanizar relações, aproximar pessoas e tornar os times mais conectados. Só que tem um ponto que vem sendo ignorado nesse processo: nem toda empresa está pronta pra começar por aí.
O problema não está nas soft skills em si, mas na ordem das coisas. Tem empresa querendo implantar diálogo não violento quando ainda não tem nem uma rotina clara. Tem líder querendo trabalhar propósito quando a equipe ainda não sabe exatamente o que tem que fazer amanhã de manhã. É como colocar uma cobertura bonita num bolo que nem cresceu ainda. O resultado é que a liderança vira performance emocional, mas o caos operacional continua intacto. E isso não é só um achismo: estudos da Deloitte (2022) apontam que 62% dos líderes de pequenas empresas sentem que não têm preparo técnico suficiente para gerir processos, mesmo após treinamentos comportamentais. Ou seja, estão treinando o emocional e ignorando o estrutural.
As hard skills são as habilidades técnicas, operacionais e estruturais da liderança. É saber montar um processo. É saber medir desempenho. É saber cobrar com critério. É entender escala, delegação, fluxo, controle. São essas as ferramentas que seguram uma operação de pé. E o que estamos vendo é que elas estão desaparecendo. Viraram “antigas”, “frias” ou “rígidas” aos olhos de quem quer só conexão. Mas sem elas, a equipe se perde, a meta estoura e o líder quebra. Em muitos casos, é a ausência das hard skills que faz a empresa depender tanto da emoção do líder — ele vira a âncora emocional da equipe, porque não há nenhum outro ponto de referência. E aí, ele desaba junto.
Ninguém está dizendo que soft skills são dispensáveis. Elas são valiosas e necessárias. Um bom líder precisa saber conversar, dar retorno, lidar com perfis diferentes. Mas isso tudo tem mais valor quando a base técnica já está ali. Quando o chão está firme. A maturidade emocional da equipe precisa andar junto com a maturidade operacional da empresa. Senão, é cobrança sem critério, empatia sem entrega e propósito sem direção. E o resultado é frustração dos dois lados.
O que estamos propondo aqui é simples: vamos voltar a valorizar as hard skills. Vamos voltar a formar líderes que sabem montar rotina, cobrar com clareza, delegar com método. Vamos ensinar o arroz com feijão antes de pedir um prato gourmet. Porque, sim, em terra de líder 5.0, quem tem hard skill é rei. E essa coroa, meu amigo, anda cada vez mais rara.
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