Fux quebra o : anulação e batalha jurídica acendem a guerra política após voto no julgamento de Bolsonaro
Divergência do ministro abre rota de recurso e alimenta narrativa de perseguição entre bolsonaristas — enquanto o tribunal preserva risco de condenação

O quarto dia do julgamento que mobilizou o país teve, nesta quarta-feira (10/09/2025), uma reviravolta capaz de redesenhar o desfecho do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Após os primeiros votos favoráveis à condenação, o ministro Luiz Fux apresentou um voto de forte dissidência: defendeu a incompetência absoluta do Supremo para julgar a ação penal, pediu a anulação do processo por cerceamento de defesa e argumentou que o caso deveria tramitar na primeira instância da Justiça Federal.
A manifestação de Fux não foi mera tecnicalidade processual — foi um movimento político-jurídico com efeitos práticos imediatos. Ao apontar que não houve indicação prévia adequada das provas e que parte da acusação implicou “document dumping”, o ministro abriu caminho para que a defesa recorra com força ao STF, ao STJ e, potencialmente, ao Tribunal Internacional de Direitos Humanos em estratégias políticas e midiáticas. Essa manobra amplia a arena de disputa: não será apenas um julgamento no plenário, mas uma longa batalha por interpretação processual que pode arrastar decisões por meses.
No campo político, o impacto é duplo. Para os apoiadores de Bolsonaro, a divergência de Fux virou prova de que há espaço institucional para reverter uma eventual condenação — combustível para campanhas políticas e para a narrativa de perseguição judicial que já circula entre as bases. Para adversários e para parcelas da imprensa, Fux introduziu incerteza num processo que parecia se encaminhar para condenações firmes após os votos de Alexandre de Moraes e Flávio Dino, ambos favoráveis à responsabilização penal pelos atos de 2022 e pelos eventos de 8 de janeiro.
Juridicamente, a posição de Fux eleva a importância do debate sobre foro, juiz natural e competência — temas que historicamente dividem o Judiciário em momentos de crise política. Mesmo com a anulação parcial que propõe, Fux não garantiu automaticamente a absolvição: abriu caminho para novos trâmites e recursos, o que pode provocar sentença tardia ou transferência do processo. A guinada traz ainda um efeito colateral previsível: pressão sobre os demais ministros, exposição política do tribunal e uma escalada de mobilização dos polos políticos nas redes e nas ruas.
Conclusão: o voto de Fux reduz a previsibilidade do desfecho imediato, mas não encerra a tempestade política. Abre, ao contrário, uma fase em que a disputa sairá do rito técnico e se transformará em confronto jurídico-político prolongado — cenário que interessa tanto a quem quer reverter decisões quanto a quem pretende capitalizar politicamente sobre a incerteza.
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